segunda-feira, 18 de maio de 2009

Entrevista - Parte II

Perguntas Feitas ao Profissional de Relações Públicas Marco Felix


(A.N)-1-Como você utiliza dos conceitos aprendidos na faculdade em seu dia-dia? (em relação a comunicação organizacional)

(M.F)-De uma forma geral, aprendemos em sala de aula os principais conceitos da área. No entanto, quando trabalhamos com cliente real, ou desenvolvemos ferramentas reais, como house organ, blogs, planos de comunicação interna, enfim, temos contato maior com a realidade. Mas sabemos que cursamos a universidade para aprender.
No dia-a-dia as coisas se tornam um pouco mais complexas; sem regras; sem orientações dos professores.
Acredito que tudo que aprendi, não só na faculdade, mas em palestras, cursos e muita leitura, me ajudaram a lidar com as situações adversas. Por exemplo, na Adesaf, organização do 3º setor para a qual presto serviços, estamos implantando um plano de comunicação interna com o objetivo de desenvolver a marca da instituição internamente. Quando elaboramos o formulário para pesquisa interna, pudemos observar que muitas questões não estavam alinhadas com os objetivos da pesquisa, o que nos fez alterar todo o processo. Em sala de aula, sempre fui muito bom em pesquisa institucional, mas tive dificuldades no âmbito profissional, acredito que por ser de verdade, rs.
Em linhas gerais, penso que tanto o conhecimento acadêmico quanto profissional se completam.

(A.N)-2-Como você aplica a Comunicação Organizacional nos locais onde você atua?

(M.F)-Primeiramente parto do princípio de que a comunicação não é a salvação de todos os problemas. É sim, agente catalisador de um processo organizacional harmônico, ou seja, não adianta investirmos milhões de reais em comunicação e marketing, se, por exemplo, trabalhamos com um produto que não tem aceitação pública.
Portanto, busco sempre saber qual é o objetivo da alta cúpula. Como ele(a) acredita que posso ajudar a organização. Quais são as expectativas a longo prazo.
Dessa forma, podemos entender como funciona a “cabeça” da organização.
Posteriormente, procuro entender como funcionam os processos internos, o que seria uma espécie de pesquisa empírica.
No caso do terceiro setor, especificamente, gostaria de ressaltar uma coisa muito importante. Quando o negócio da organização é o bem estar social, ou seja, quando a organização atua com foco nas comunidades, é muito importante vivenciar alguns processos, como por exemplo, participar de uma aula de inclusão de jovens que abandonaram os estudos e regressaram mais tarde. Foi uma das experiências mais ricas que pude ter em comunicação. O envolvimento dos professores, a vontade dos alunos, o relacionamento criado em sala de aula. Tudo isso, nos ajuda a entender o processo da comunicação com este público.
Em síntese, conhecer o campo em que você atua é essencial para o sucesso de um projeto, assim como o pensamento de Sun Tzu em A Arte da Guerra.


(A.N)-3-Em seu ponto de vista, como o mercado vê a Comunicação Organizacional? (hoje)

(M.F)-Muitos anos atrás, comprar um tênis ou um eletrodoméstico dependia apenas da qualidade do produto, seu design e preço. Atualmente, selecionam os produtos e as empresas que entrarão em suas casas. Não querem utilizar um tênis produzido por trabalho quase escravo na Ásia e, ainda por cima, crianças.
Portanto, além de se moldar às tendências de mercado, as empresas passaram a ter a necessidade de falar “uma só língua”, ou seja, unificar seu discurso e fazê-lo chegar, não apenas nos consumidores finais, mas também, nas demais organizações com as quais se relaciona.
Sendo assim, acredito que, assim como a contabilidade, a área de finanças, P&D, entre outras áreas administrativas, a comunicação desenvolve papel estratégico capaz de impulsionar os negócios no competitivo mercado.

(A.N)-4-Quais das ferramentas da Comunicação Organizacional você considera que são as mais eficazes?


(M.F)-Acredito que não haja uma distinção entre as ferramentas de comunicação. Tudo depende do contexto e das necessidades do momento em que a empresa se encontra. Talvez arriscasse dizer que as ferramentas de comunicação interna devessem ser priorizadas principalmente pela importância estratégica que nossos funcionários exercem. No entanto, dizer que é a mais eficaz seria muito subjetivo afirmar.


(A.N)-5-Como a “organização” onde você atua enxerga a Comunicação Organizacional?

(M.F)-Atuo em dois setores distintos, o governamental e o 3º setor. No entanto, as necessidades de cada um são um pouco diferentes, o que os levam a ter diferentes objetivos em comunicação.
No setor governamental, lidamos com cerca de 327 mil munícipes com hábitos e situação econômica diferentes.
O atual governo foi eleito com mais de 80% de aceitação e nos cabe manter e elevar esta meta.
Já no terceiro setor, estamos em processo de definições de alguns objetivos secundários, ou seja, de relacionamento entre os públicos. Mas posso adiantar que o posicionamento da Oscip é mais agressivo e procuramos liderar um mercado ainda em ascenção na Baixada. Em outras palavras, os objetivos são mais desafiadores.

(A.N)-6-Você acha que a importância que é dada a Comunicação Organizacional pelos profissionais é suficiente?

(M.F)-De certa forma sim. Tenho contato diário com estagiários em Relações Públicas e Jornalismo e posso tirar como exemplo o que observo. Ainda existe um desencontro de informações no que se refere à comunicação integrada.
A atuação conjunta das áreas de RP, Jornalismo e Publicidade e propaganda em determinado departamento pode ser encarada como Comunicação Integrada. No entanto, depende de como foi elaborado o planejamento organizacional. O RP cria o evento, o publicitário desenvolve o material de divulgação e o jornalista envia o release para as redações. Isso não é Comunicação Integrada e sim cooperação entre as áreas.
Posicionamento institucional, Comunicação Interna, Externa, Comunicação Empresarial. Essas são as áreas que agregam a Comunicação Organizacional e a integração das disciplinas. Talvez essa ainda seja uma barreira em nossa área que impossibilita muitos profissionais a entenderem o funcionamento da comunicação e isso se reflete no mercado.
Digo sempre às minhas equipes que a comunicação vem ganhando força no processo empresarial e essa realidade deve ser acompanhada de perto. Acredito que em pouco tempo, os gestores de comunicação serão valorizados, ou seja, aqueles que entendem a comunicação como um processo amplo. O mercado já não reserva espaço para gestores que sejam bons jornalistas, ou bons publicitários. Devem sim ter habilidades de bons comunicadores.

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